terça-feira, 15 de março de 2011

A Europa: entre a fé e a razão¹

Como já estudamos, o feudalismo foi o sistema político, social e econômico que predominou na Europa durante a Idade Média, consolidou-se no século X, atingiu o auge no século XII e a partir do século XIII entrou em colapso. Durante a Baixa Idade Média, iniciou-se a transição que o substituiria pelo capitalismo, sistema dominante na história até hoje.

O sistema feudal era marcado pela descentralização política, pela imobilidade social e pela autossuficiência econômica dos feudos.

O PODER DA IGREJA

Nenhuma instituição foi tão rico, bem organizada e influente na Europa feudal quanto a Igreja Católica. Com a transição do cristianismo em religião oficial do Império Romano, em 391, durante o reinado de Teodósio, a Igreja passou a acumular fortunas e vastos territórios. No século V, a instituição tinha uma organização hierárquica definida – com padres e sacerdotes na base da pirâmide, bispos logo acima e o papa no topo e estava bem instalada pelo continente. Os religiosos dedicaram-se em converter os “bárbaros” e a promover sua integração com os romanos, ganhando prestígio e passando a assumir funções administrativas nos novos reinos. O cristianismo era professado por todos os feudos. Mas é importante frisar que a reprodução desta religião misturava-se a uma infinidade de antigos costumes bárbaros.

A religião era utilizada como mecanismo de harmonização entre o poder dos nobres e a submissão forçada dos servos, que deveriam acreditar que Deus teria estabelecido a função de cada um nessa vida e que não haveria mais diferenças sociais quando chegassem no Paraíso. Por outro lado, os nobres acolhiam os servos em seus domínios partindo da ideia que realizavam um ato divino. Além de deterem poder político e econômico, os sacerdotes formavam a elite que sabia ler e escrever e passaram a encerrar em si o monopólio do conhecimento. Não à toa, os maiores expoentes da filosofia medieval são religiosos. O pensamento filosófico da época foi intensamente influenciado pelo cristianismo, confundindo-se com a teologia. Desta forma, possuidores da cultura escrita e, portanto, do acesso à Bíblia, os sacerdotes cristãos transmitiam seus ensinamentos principalmente por meio da palavra, nos sermões e nas pregações. Gravuras, pinturas, vitrais e esculturas também veiculavam as mensagens eclesiásticas.

Como o clero não exercia nenhum trabalho braçal e a Igreja era um dos maiores detentores de terras, esse segmento constituía-se em uma nobreza tanto quanto qualquer outra. O papa possuía preparo militar e, não raro, comandava tropas contra nobres que o desafiavam, além de muitas vezes estarem a frente das Cruzadas pregadas pelo papado.

As Cruzadas foram expedições religiosas e militares dos cristãos com destino à Terra Santa (Jerusalém), realizadas entre os séculos 11 e 13. Além da intensa religiosidade, uma série de motivações esteve por trás das expedições: o controle das rotas do comércio com o Oriente, a conquista de terras, a possibilidade de fortalecimento do poder dos monarcas feudais e a ampliação do poder da Igreja. Além disso, Cruzadas exportavam duas fontes de tensão social: as camadas empobrecidas e marginalizadas e os representantes da pequena nobreza desprovidos de terras.

Com tanto poder nas mãos, as autoridades católicas fizeram de tudo para aumentá-lo ainda mais. Para isso, muitas vezes usavam como pretexto o suposto combate à heresia (prática contrária a doutrina da Igreja, ou seja, questionamento aos dogmas católicos). O símbolo máximo dessa repressão foi a instauração em 1231, dos tribunais do Santo Ofício, ou Inquisição, pelo Papa Gregório IX, que tinham poderes para julgar e condenar à morte os réus considerados infiéis.Na verdade , quase todos os condenados eram simplesmente pessoas que discordavam dos desmandos católicos ou opositores dos aliados da Igreja. Foram Joana D`Arc, queimada viva em 1431, sob acusação de bruxaria e Galileu Galilei que chegou a renegar suas descobertas cientificas e foi condenado à prisão domiciliar, em 1663.

O RENASCIMENTO: ENTRE A IDADE MÉDIA E A MODERNA

É preciso deixar claro que não existe um consenso entre os historiadores no que se refere à ideia de ruptura ou continuidade do passado quando o assunto é o Renascimento cultural e cientifico, fenômeno social que se processou na chamada passagem da Idade Média para a Moderna. Por um lado, tal movimento pode ser visto como um marco na divisão de dois períodos, apresentado um novo modo de pensar, uma nova atitude perante a vida, novos temas abordados sobre o mundo intelectual e artístico para demonstrar isso. Neste sentido, podemos entender o Renascimento como ruptura.

Desde o século 12 teve início um lento processo de transformação cultural a partir das cidades italianas que se espalhou por toda a Europa. As cidades medievais tornavam-se centros de intensa produção intelectual, oferecendo cursos que abrangiam desde o ensino elementar até os altos estudos universitários. As atividades urbanas requeriam novas habilidades e conhecimentos. Ler, escrever e calcular eram indispensáveis à prática do comércio.

No século 13, uma alteração da sensibilidade artística começou a se manifestar com a valorização da cultura greco-romana, racionalismo e do naturalismo, ameaçando o controle da Igreja. A relação com a Antiguidade não representava o desejo nostálgico de retornar ao passado. Os homens medievais queriam o poder, a ciência, a arte e a filosofia dos antigos adaptada ao seu mundo.

O desenvolvimento da nova cultura correspondia às necessidades da burguesia de se afirmar em uma sociedade dominada pela nobreza e pelo clero. Desde cedo, ricos comerciantes, denominados mecenas, patrocinavam os artistas. Além do prestigio político que adquiriam esses comerciantes contribuíram para a formação de um movimento cultural conhecido por Renascimento, que atingiu seu apogeu no século 15 e 16.

A transição do mundo medieval para o mundo moderno foi lenta e carregou consigo uma forte herança, a qual teve vida longa em alguns pontos e noutros, foi enfraquecida até a exaustão. E, dessa forma, não foi um processo homogêneo. Nesse processo, pode-se entender como elementos da transição o Renascimento (a busca de uma vida de mundo humanista e burguesa), a Reforma (uma Igreja favorável ao pensamento burguês) e o Absolutismo ( a centralização do poder real).

O elemento central do Renascimento foi o humanismo, corrente filosófica que se baseava no antropocentrismo, ou seja, considerava o ser humano o centro das questões. Para os humanistas, o homem é dotado de uma capacidade quase divina de criar e, ao exercê-la, aproxima-se de Deus. Ao rejeitarem ferozmente os ideais medievais – segundo os quais Deus era o centro de tudo e a fé se colocava acima da razão – e ao se inspirar em pensadores da Antiguidade Clássica, os humanistas julgavam estar promovendo um renascimento da cultura.

Outras características fundamentais do Renascimento foram o naturalismo, a busca por uma representação da natureza fiel à realidade; o racionalismo, valorização da razão; e o hedonismo, que defende o prazer individual como único bem possível.

Uma série de fatores proporcionou a ocorrência do Renascimento a partir da Baixa Idade Média. Inicialmente, houve o renascimento comercial, isto é, a generalização do comércio pela Europa, fenômeno que se tornou irreversível desde a abertura do Mediterrâneo. Isso tudo foi acompanhado pelo renascimento urbano, que implicou o surgimento de novas cidades e uma série de funções para elas; a cultura renascentista foi essencialmente urbana.

Ocorreu também o surgimento e a ascensão dos mercadores, ligados principalmente ao comércio marítimo. Para que isso acontecesse, foi necessária a centralização do poder algumas partes da Europa, o que favoreceu a redução do poder da Igreja.

O Renascimento desenvolveu-se com maior intensidade na Itália, o único local onde podemos encontrar manifestações em todas as áreas do conhecimento. De maneira geral, o Renascimento ou a Renascença pode ser dividido em três períodos: Trecento, Quatrocento, e Cinquecento, que corresponderiam aos séculos XIV, XV e XVI.

Trecento - foi o período em que se começou a romper com os modelos artísticos da Idade Média. Na pintura, destacou-se Giotto di Bondoni, que representava imagens sacras já com forte traço naturalista. Na literatura, os maiores nomes foram Dante Alighieri (Divina Comédia) e Giovani Boccaccio (Decameron). Os três usavam, em vez do latim, identificado com a cultura eclesiástica medieval, o toscano, dialeto que originou o atual italiano.

Quatrocento - caracterizou-se por intensa produção artística e extrema evolução intelectual. Foi quando, graças ao financiamento dos mecenas, os artísticas começaram a deixar de ser encarados como simples artesãos para se tornar profissionais independentes. Entre os artistas que mais se destacaram no período estão Leonardo da Vinci(Mona Lisa e o Homem Vitruviano) e Sandro Botticeli (O Nascimento de Vênus).

Cinquecento – no século XVI, Roma substituiu Florença como principal centro de arte na Itália, e a Igreja Católica tornou-se o grande mecenas do período. Rafael Sanzio (Escola de Atenas, pintada em uma das paredes do Vaticano) e Michelangelo (esculpiu Pietá, Davi e Moisés), dois dos maiores artistas plásticos do Cinquecento, produziam importantes obras para a Sé. Na literatura, sistematizou-se o uso da língua italiana com autores como Ariosto, Torquato Tasso e Maquiavel. Esse último, o mais importante pensador político do período, é o autor de O Princípe, ensaio sobre a arte de bem governar, que defende a falta de escrúpulos, o uso da força e a diminuição da atuação política da Igreja.

Foi também no século XVI que viveram os grandes cientistas do Renascimento: o polonês Nicolau Copérnico, o alemão Johannes Kepler e os italianos Giordano Bruno e Galileu Galilei, todos astrônomos defensores da revolucionária teoria heliocêntrica, que rompeu com supostas verdades da Igreja ao afirmar que o Sol, e não a Terra, seria o centro do universo. Esses pensadores foram os primeiros a utilizar o método cientifico, série rigorosa de testes que pretende garantir a veracidade das teorias. Essas especulações abriram caminho para novas pesquisas que acabariam escapando ao controle da Igreja. Aos poucos, o método experimental passou a ser o principal meio para se alcançar o saber cientifico.

Seguindo pelas rotas comerciais, o Renascimento chegou a várias outras partes da Europa. Os Países Baixos destacaram-se na pintura, com Brueghel e os irmãos Hubert e Jan Van Eyck, e na filosofia, com o humanista Erasmo de Roterdã. Na Inglaterra surgiu outro expoente do humanismo, Thomas Morus (Utopia), e um dos maiores dramartugos de todos os tempos, William Shakespeare (Hamlet, Macbeth, Romeu e Julieta). Entre os franceses, os mais notáveis foram os escritores Rabelais (Gargantua e Pantagruel) e Montaigne (Ensaios). A península Ibérica não incorporou completamente os valores renascentistas, mas também produziu célebres escritores no período, como o português Luís de Camões (Os Luisíadas) e o espanhol Miguel de Cervantes (Dom Quixote de La Mancha).

Referências Bibliográficas:

BOULOS Júnior, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 7.ano. São Paulo: FTD, 2009.(Coleção História: Sociedade & Cidadania).

PROJETO ARARIBÁ: história/organizadora Editora Moderna; obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna; editora responsável Maria Raquel Apolinário. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2007.

Revista Almanaque de História Ano 1 – No.1 Editora On line.

Roteiro de Atividades:

1- Leia este texto com atenção, grife as palavras desconhecidas e faça o vocabulário no caderno.

2- Por que o nome Renascimento demonstra preconceito com a Idade Média? Explique com suas palavras.

3- Monte uma ficha sobre o Renascimento, seguindo o roteiro.

a) Em que contexto surgiu?

b) O que foi?

c) Onde se originou?

d) Quais são os principais valores renascentistas?

e) Cite três artistas, com suas respectivas, obras desse período.

[1] Preparado pela Profa. Alinne Grazielle Neves Costa para os sétimos anos de 2010.