terça-feira, 6 de setembro de 2011

Do artesanato à maquinofatura: os primórdios do consumismo

Considerando os milhares de anos da história da humanidade, faz pouco tempo que as pessoas trabalham o dia inteiro, tem horário para tudo e vivem com pressa. Essa vida de correria começou com a industrialização, no século XVIII, quando as máquinas passaram a produzir muito mais em menos tempo.

A industrialização começou com as máquinas que produziam tecidos na Inglaterra. Aos poucos, essa velocidade se estendeu a outras esferas da sociedade, como transportes e comunicações. As cidades cresceram, assim como o número de fábricas, a poluição e o consumismo.

Para entendermos estas transformações precisamos compreender o que seria a primeira forma de produção industrial, o artesanato que surgiu no fim da Idade Média. Como vimos no texto anterior, com o aumento da população urbana, surgiram novas ocupações profissionais e uma nova forma de organização do trabalho e da produção. Entre as várias atividades artesanais, a que mais se destacou foi à produção têxtil. Na produção artesanal, havia os mestres ofício, que eram os donos das oficinas e dos instrumentos. Com eles trabalhavam os aprendizes, homens livres que dependiam do mestre para trabalhar e aprender o ofício, e jornaleiros, homens que trabalhavam por jornada recebendo uma remuneração diária. O artesão realizava e conhecia todas as etapas da produção. A produção caseira dependia totalmente da habilidade, da força e da velocidade do artesão que fazia tudo que produzia manualmente. Por isso, o sistema doméstico produzia em pequena escala e não garantia uma produção volumosa.

O artesanato que vemos hoje nas ruas ou nas lojas de produtos alternativos é bem diferente do artesanato doméstico que estudamos, embora as técnicas de trabalho sejam muitas vezes as mesmas. Naquela época, o artesanato era fundamental para obter coisas básicas, como roupas, móveis, tapetes, cobertores, utensílios domésticos etc. Atualmente, o artesanato está voltado para a produção de artigos ornamentais e representa pouco do volume geral das mercadorias produzidas na maior parte dos países.

Por volta do século XV, homens de negócios começaram a agrupar os artesãos em grandes galpões para controlar a produção de mercadorias. Surgia assim a manufatura, forma de produção básica da época da transição do feudalismo para o capitalismo, e é considerada por muitos estudiosos, a primeira forma de produção capitalista.

Nesse sistema, a produção foi dividida em diferentes etapas, cada qual realizada por um trabalhador. Como no artesanato, o trabalhador era o agente principal da produção, mas este não mais controlava a confecção do produto do começo ao fim, ao contrário, responsabilizava-se por apenas uma parte da produção. Contava com o auxílio de ferramentas e de algumas máquinas simples, como a de fiar e a de tecer, no caso da tecelagem. Na manufatura, o artesão deixou de ser dono dos instrumentos e do local de trabalho, que foram para as mãos dos capitalistas, e passou a trabalhar em troca de um salário.

Nas manufaturas, trabalhavam dezenas ou mesmo centenas de pessoas, sob as ordens de um empregador capitalista. Em cada manufatura desenvolvia extensa divisão do trabalho, cada linha de produção sendo dividida em numerosas tarefas distintas. Cada grupo de trabalhadores se dedicava especializadamente a uma dessas tarefas, o que permitia grandes ganhos de produtividade. [1]

A manufatura resultou da ampliação do consumo, que levou o artesão a aumentar a produção e o comerciante a dedicar-se à produção em maior quantidade para venda e não só para o consumo próprio. O manufatureiro distribuía a matéria-prima e o arte­são trabalhava em casa, recebendo pagamento combinado. Esse comerciante passou a administrar a produção de mercadorias, além de vendê-las. Primeiro, contratou artesãos para dar acabamento aos tecidos; depois, tingir; e tecer; e finalmente fiar. Surgiram fábricas, com assalariados, sem controle sobre o produto de seu trabalho. A produtividade aumentou por causa da divisão social, isto é, cada trabalhador realizava uma etapa da produção.

Além disso, houve a ampliação do mercado consumidor que se relaciona diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção as terras conquistadas pelos europeus tanto no Oriente como em direção à América, permanecendo o lucro nas mãos dos grandes mercadores. Outra característica desse período foi a interferência do capitalista no processo produtivo, passando a comprar a matéria prima e a determinar o ritmo de produção, uma vez que controlava os principais mercados consumidores.

Na segunda metade do século XVII, com a Revolução Industrial, a manufatura foi substituída pela maquinofatura, o que aconteceu primeiramente na Inglaterra.

A energia hidráulica e, depois, os motores a vapor começaram a mover as máquinas, aumentado a velocidade e a precisão da produção, que estava parcialmente automatizada. O trabalhador passou a alimentar a máquina, verificar e controlar sua velocidade e zelar por sua manutenção. Com a divisão de tarefas, operário não conhecia mais todo o processo produtivo: ele dominava apenas a etapa da produção da qual era encarregado. Os produtos passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo. Por outro lado, aumentou também o número de desempregados, pois as máquinas foram substituindo, aos poucos, a mão-de-obra humana. Até os dias de hoje, o desemprego é um dos grandes problemas nos países em desenvolvimento.

Não podemos negar, então, que os resultados desta transformação nas relações de produção foram extraordinários, refletindo em vários setores da vida humana.

BIBLIOGRAFIA

BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 7ª série (8º ano). São Paulo: FTD, 2006.

HENDERSON, W. O. A Revolução Industrial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979.

MARQUES, Adhemar. Pelos caminhos da história: ensino médio. Curitiba: Positivo, 2006.

SCHMIDT, Dora. Historiar: fazendo, contando e narrando a História. 7ª série. São Paulo: Scipione, 2002.



[1] SINGER, Paul. A formação da Classe Operária. 5.ed.São Paulo: Atual, 1994,p.12

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